O sono e a carreira são dois conceitos que têm
sido alvo de bastante atenção e preocupação por académicos e teóricos um pouco
por todo o mundo, ainda que nem sempre se analisem as relações entre ambos. Os
estudos do sono têm-se focalizado na análise dos hábitos, fatores pessoais e fatores
ambientais que afetam o sono de crianças, jovens, adultos e idosos, bem como
das patologias associadas. Por sua vez, os estudos da carreira têm analisado o
seu desenvolvimento no contexto do ciclo de vida, assumindo a existência de
diferentes fases, etapas e tarefas, bem como no contexto dos diferentes palcos
de vida.
Atualmente, a relação entre estes conceitos tem
sido alvo de um investimento acentuado, embora ainda seja difícil assumir-se a
sua bidirecionalidade, isto é, o sono influencia a carreira, do mesmo modo que
a carreira influencia o sono.
No que respeita à direcção da primeira relação,
ou seja, entre sono e carreira, estudos prévios têm avaliado questões do sono
em profissionais de diferentes áreas. Alguns dos participantes envolvidos são
os oficiais da marinha ou do exército, os enfermeiros da emergência médica, os
hospedeiros de bordo, e todos os trabalhadores que, em geral, estão envolvidos
em atividades que decorrem por turnos e, por este motivo, fomentam horários
(duração) e rotinas (regularidade) muito diversificados. Neste âmbito, tem-se
verificado, a título de exemplo, que, quando a duração, regularidade e
autonomia do sono não são adequadas, podem surgir efeitos ao nível da saúde em
geral (p. ex., mais fadiga), do funcionamento cognitivo (p. ex., dificuldades
de atenção, concentração, e memorização), do humor (p. ex., irritabilidade,
depressão), da aprendizagem, do desempenho e produtividade, das promoções, e da
qualidade de vida (p. ex., menores níveis de satisfação com a vida).
No que concerne à direcção da segunda relação, ou
seja, entre carreira e sono, os estudos prévios existem em muito menor número.
Apesar disso, têm avaliado o impacto das diferentes carreiras e estilos de vida
consequentes nos padrões de sono. Estes estudos têm sido desenvolvidos com
participantes tais como os cuidadores, os (trabalhadores-) estudantes e os
casais com dupla carreira. A este nível existe uma preocupação central
associada ao equilíbrio/conflito entre os diferentes papéis de vida, isto é, o
modo como a conciliação ou não dos diferentes papéis de vida (p. ex., ser mãe,
ser trabalhadora, e ter vida social e de lazer) pode levar a problemas nos
padrões de sono. Por outro lado, a fase de desenvolvimento de carreira (p. ex.,
exploração, estabelecimento, declínio), mais orientada para a exploração, a
progressão, a manutenção ou a reforma, em que a pessoa se encontra também pode
influenciar as questões de sono, nomeadamente levando a longos períodos de
privação. Acrescenta-se ainda que os aspetos como as exigências de
disponibilidade para o trabalho, os conflitos, o stress, o burnout,
o mobbing e a competitividade estão associados a uma má qualidade do
sono.
Daqui se conclui que, se uma boa noite nos
prepara efetivamente para encarar com maior disposição, interesse e competência
a vida pessoal e profissional, por seu turno, um bom dia é crucial para
promover as condições necessárias para uma noite descansada.
Joana Carneiro Pinto
Professora Universitária
Consulta de Aconselhamento Profissional e Gestão
de Carreira do Centro de Medicina do Sono do CENC
1 comentário:
Hoje em dia o número de jovens adultos que não sabe o que há-de fazer da vida nem da profissão é verdadeiramente assustador pela infeleicidade que eles sentem e as consequências práticas e familiares desse facto. Por outro lado há um numero crescente de desempregados que ficam subitamente com as esperanças e as suas próprias "pernas" cortadas, sem saberem o que fazer da vida. É nestas encruzilhadas que importa falar de carreiras e duma possivel ferramenta para uma solução
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