sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

A caminho do esgotamento


O caminho para o esgotamento é tortuoso e nebuloso, com voltas e reviravoltas, incerto e certo, muitas vezes curto, outras vezes longo, e, nos dias de hoje, percorrido por crianças, adolescentes, mulheres, homens, filhos e pais, profissionais e empresários. Um ror de gente e um triste caminho!

Mas vale a pena perguntar como lá se chega e o que lá se encontra. Chega-se lá de uma forma parecida: trabalhando muito, dormindo pouco, ajudando com estimulantes, drogas ou remédios.

Dirão: Que disparate! Como é que uma criança chega a isso?

Hoje em dia, no Portugal tranquilo e soalheiro, muitas crianças e adolescentes saem de casa ainda não é dia e chegam já de noite, depois de terem estado na escola, nos centros de estudo, nas actividades extra-escolares. Aprendem espanhol, inglês, ténis, natação ou equitação e outras coisas mais. Chegam a casa tarde, porque os pais trabalham também até tarde, jantam às 21h, vêm televisão ou brincam com a play station, o computador e o ipad, trocam mensagens com os amigos no telemóvel ou nas redes sociais e, por volta das 23h ou meia-noite, lá vão para a cama, de cabeça cheia, para dormirem melhor ou pior e acordarem antes do tempo, lá para as 7h, ensonados e irritados.

Nos fins-de-semana, há ainda os trabalhos de casa, inúmeros e excessivos, tendo em conta a sobrecarga escolar. Continhas feitas, trabalham pelo menos 40 horas por semana, ou seja, tanto ou mais do que o horário oficial de um adulto!

Consequências: a prazo, estes meninos e meninas ficam cansados, nervosos, com dores de cabeça e queixas de saúde, mas vão aguentando e, quando chegam à universidade, deparam com a surpresa de não serem capazes de estudar, de se orientar, de autonomia. Estão esgotados!

Esgotados sim, porque, para se prepararem para a vida, as crianças e jovens precisam de brincar, de ter limites no estudo, no tempo de aulas, nos trabalhos e no uso das tecnologias em voga.

Para os adultos, homens e mulheres, acontece o mesmo. Caem neste paradigma aqueles que têm de ter sucesso à viva força, os que trabalham demais e começam o dia cedo para o acabarem tarde, os que têm muitas responsabilidades, sejam elas económicas, financeiras, de pessoas para gerir ou de firmas para governar. Caem ainda as mães e pais de família com filhos e cheios de trabalho e de afazeres, as mães ou pais que, sozinhos, têm a responsabilidade de um ou mais filhos e entendem isso como sendo natural, esquecendo como é difícil. Caem os que fazem mil tropelias para não dormir, com cafés, estimulantes, ginástica fora de horas, e outras coisas mais. Caem os que trabalham por turnos e os que têm horários irregulares. Caem os que viajam muito e mudam frequentemente de país e de fuso horário. Caem os que não podem recusar o excesso de trabalho a que são obrigados. Caem os que têm de trabalhar o máximo para salvar a economia familiar periclitante, num mundo de regras financeiras e jurídicas que não aprenderam nem entendem. Caem muitos, infelizmente…

Mas o que é o esgotamento, também conhecido por “burn-out”?

Como disse, os caminhos são tortuosos e nebulosos. O primeiro passo é a compulsão para trabalhar por ambição ou obrigatoriedade de o fazer, ou a compulsão para usar tecnologias por divertimento ou integração em grupos. A seguir, faz-me sempre mais para ser sempre melhor, e começa-se a negligenciar as necessidades (esquecem-se as horas, as refeições, o dormir, a família, os amigos…), mas, como tudo parece estar mais ou menos, não se vislumbra a raiz dos problemas, que depois, são mesmo negados (Está tudo bem! Não há problema!). É então que os problemas se avolumam: a irritação, as olheiras, os esquecimentos e lapsos, o adormecer inapropriado. A depressão, carregada de tristeza e vontade de não fazer nada, a fadiga extrema física e mental (Estou desfeito!).


Aí está o tal esgotamento!